Os segredos do nariz de um cão
O olfato de um cão é muito mais sensível do que o dos humanos. Para ver a diferença, vejamos os números. Os humanos têm cerca de 5 milhões de células receptoras olfatórias espalhadas por uma área de 5–7 cm2 do epitélio olfatório. Um cão doméstico tem de 70 a 230 milhões de células em uma área de cerca de 150-170 cm2, dependendo da raça. Um gato doméstico tem de 60 a 65 milhões de células. O bulbo olfatório em cães tem até 40 vezes mais área de superfície do que em humanos [1,2,3]. Já que nós, humanos com apenas 5 milhões de células, podemos cheirar tantos cheiros, imagine como será para os cães!
A sensibilidade do olfato em cães é usada, entre outas, na osmologia (um ramo da tecnologia forense que trata de proteger, armazenar e examinar vestígios de odores humanos com o uso de cães especialmente treinados) e na detecção de vestígios de drogas ou explosivos substâncias. O nariz de cão também tem uma grande predisposição para detectar doenças, como câncer de próstata [1], melanoma [2], câncer de pulmão [3], crises epilépticas e hipoglicemia [4,5].
Ofalto
Outra propriedade do nariz do cão é sua adaptação ao farejar. Respirar e cheirar se separam em duas vias distintas. Isso significa que os cães são capazes de manter o cheiro no nariz, mesmo enquanto respiram. Quando exalam, a maneira como expelem o ar pelas fendas do nariz permite que capturem novas moléculas de cheiro e detectem mais substâncias durante o acto de cheirar. Durante a inspiração, o ar passa pela parte superior da cavidade nasal atingindo uma estrutura óssea porosa especial, que se deposita e acumula moléculas aromáticas, evitando que sejam sopradas durante a expiração. Durante a expiração, o ar viaja pela parte inferior da cavidade nasal [12,13,14]. Curiosamente, os cães usam cada narina separadamente para cheirar, transmitindo informações para hemisférios separados (a narina esquerda corresponde ao hemisfério esquerdo, e a direita – ao hemisfério direito). O cheiro de comida e outros aromas agradáveis e os associativos são inalados com o lado esquerdo, enquanto os cheiros associados com o perigo (adrenalina, odor de veterinário) e novas substâncias desconhecidas são inalados com o lado direito [7].
Codificação olfativa
A codificação olfativa é um processo pelo qual as informações sobre os estímulos olfativos são codificadas. Refere-se a todos os processos cognitivos envolvidos na percepção e reconhecimento de um cheiro e na formação de emoções negativas ou positivas. Do ponto de vista humano, o último, ocorrendo na amígdala no cérebro, desempenha um papel crucial: proprietários, treinadores ou comportamentalistas podem usar aromas na vida cotidiana – na terapia, no trabalho, brincando e descansando.
Aroma terapêutico
O treino olfativo requer um grande esforço físico e mental do seu cão. É uma ferramenta terapêutica extremamente importante com uma variedade de utilizações. Pode ser usado em cães hiperativos, cães com depressão, transtorno obsessivo-compulsivo ou transtornos de ansiedade, ou simplesmente para lutar contra o tédio. Pode usar as formas tradicionais: busca, rastreamento ou uma brincadeira livre e divertida, como “esconde-esconde” (esconda uma guloseima ou brinquedo e deixe o seu cão procurar), ou use aromas de várias outras maneiras. A pesquisa mostrou que os cães respondem muito bem ao aroma de lavanda. Tem um efeito calmante sobre o seu cão. Um experimento que investigou os efeitos de lavanda no comportamento de cães durante a viagem descobriu que passam significativamente mais tempo descansando e sentados, bem como menos tempo a mover-se e a vocalizar-se [15] Outro estudo realizado com cães num abrigo mostrou que ficam mais calmos quando o aroma de lavanda ou camomila for espalhado pelo seu ambiente. Além disso, foi observada que emitem vocalizações de forma menos frequente. Ao contrário, a hortelã-pimenta e o alecrim têm um efeito estimulante nos cães [16].
Comportamento treinado clássico
Poderá usar o conhecimento adequerido através da informação acima-mencionada na vida cotidiana. Por exemplo, poderá colocar umas gotas de óleo de lavanda na cama do seu cão ou fazer uma massagem com um óleo contento aroma de lavander e combinar-lo com um treinamento de relaxamento. O óleo de lavanda é usado como estímulo de treino positivo, enquanto a massagem de relaxamento serve para estimular um determinado resultado de comportamento. Depois de algumas sessões, o aroma de lavanda será associado pelo seu cão ao acto de relaxamento, produzindo uma resposta treinada de relaxamento no seu cão. Vamos relembrar como sabemos disso: O experimento conduzido pelo cientista russo Ivan Pavlov mediu a intensidade da salivação dos cães. Na primeira fase, deu aos cães ração, causando a salivação, uma reação fisiológica normal. A comida era o estímulo não treinado que causava uma resposta fisiológica: a salivação. No segundo estágio, ele tocou uma campainha antes de dar comida. Após uma série de repetições, descobriu-se que o cão salivava apenas ao som do sino, ou seja, um estímulo inicialmente inerte (o estímulo treinado). O estímulo de treino (o sino) ficou associado à resposta não treinado ou fisiológica (salivação). Podemos usar esse conhecimento ganho no treinamento de relaxamento: podemos fazer que o aroma de lavanda (no lugar do sino) fica associado a um estado de relaxamento (no lugar de salivação).
O conhecimento de aromas também pode ser usado no treinamento do seu cão. Como sabe, a maioria dos cães não gosta de tomar banho. Se escolher produtos sem perfume ou produtos com o aroma de lavanda, não causaria nenhum stress adicional no seu cão. Se usar o aroma de lavanda, poderia até reduzir o stress.
Os aromas também são úteis para desencorajar o seu cão de certos comportamentos. Para este efeito, utilizam-se normalmente preparações com notas cítricas fortes, vulgarmente conhecidas por serem muito desagradáveis para os cães.
Comunicação olfativa
Do ponto de vista científico, o olfato é um sentido fundamental para os cães, indispensável nos contatos sociais. Eles usam o cheiro como o principal meio de comunicação, ou seja, para a troca de informações dentro da espécie. Se tentar esconder o cheiro do seu cão com outro cheiro, intenso e agradável para si, poderá fazer o seu cão se sentir menos confortável. Os cães quando têm um odor de que não gostam, tentarão a todo custo livrar-se dele, por exemplo, enrolando-se noutro cheiro, aquele que for mais agradável para eles (e não necessariamente para os humanos). Portanto, em casa ao escovar seu cão, lembre-se de usar cosméticos sem perfume ou com lavanda se quiser lhe provocar uma sensação de conforto emocional.
Devido às enormes diferenças na percepção olfativa entre animais macrosmático (ou seja, com olfato excepcionalmente bem desenvolvido, como cães e gatos) e animais microsmático (com papel olfativo insignificante, como humanos), o que você achar agradável poderá ser um pesadelo para o nariz do seu cão. Tendo este conhecimento, pode decidir conscientemente quais são os aromas que deseja incutir no seu cão para influenciar o seu conforto e bem-estar [17].
Agata Maria Kokocińska – Kusiak
Etólogo, zoopsicólogo, treinador de animais
- Cornu JN, Cancel-Tassin G., Ondetb V., Girardetc C., Cussenota O., Prostate Cancer Olfactory Detection of Prostate Cancer by Dogs Sniffing Urine: A Step Forward in Early Diagnosis. European Urology, February 2011, Volume 59, Issue 2, Pages 197–201 Platinum Priority
- Pickel D, Manucy GP, Walker DB, Hall SB, Walker JC, Evidence for canine olfactory detection of melanoma. Applied Animal Behaviour Science, 2004, 89, 107–116
- Can trained sniffer dogs detect cancer in humans? Tadeusz Jezierski*, Marta Walczak, Aleksandra Górecka
- Canine scent detection of human cancers: A review of methods and accuracy. Emily Mosera, Michael McCulloch, Journal of Veterinary Behavior (2010) 5, 145-152
- Dogs As a Diagnostic Tool for Ill Health in Humans, Wells, Deborah L, PhD. Alternative Therapies in Health and Medicine; Aliso Viejo18.2 (Mar/Apr 2012): 12-7.
- Marchlewska- Koj, A., Feromony ssaków – ich rola w fizjologii zachowaniu., Kraków 2011
- Siniscalchi M., Olfaction and the canine brain [w:] Canine Olfaction Science and Law. Advances in forensic science, medicine, conservation and environmental remeditation. Edited by Jezierski T., Ensminger J., Papet L.E.,
- Barton R.A. Embodied cognitive evolution and the cerebellum. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2012 Aug 5; 367(1599): 2097–2107.
- Jia H., Pustovyy O.E., Waggoner P., Beyers R.J., Schumacher J., Wildey Ch., Barrett J., Morrison E., Salibi N., Denney T.S., Vodyanoy V.J., Deshpande G., Functional MRI of the Olfactory System in Conscious Dogs. Plos/ONE, 9(1),
- Doucette W., Milder J., Restrepo D., Adrenergic modulation of olfactory bulb circuitry affects odor discrimination. Learn Mem. 2007 Aug 3;14(8):539-47. Print 2007 Aug.
- Beaver Bonnie V., Canine behavior: insights and answers, Elsevier Health Sciences, 2009
- Tajemnice Psiego umysłu. Stanely Coren, 2005
- Oczami Psa. Alexandra Horowitz, 2013
- Why Do Dogs Have Such a Great Sense of Smell? Ashwinscienceabc.com, dostęp: 1.09.2017,
- Wells DL. Aromatherapy for travel-induced excitement in dogs. J Am Vet Med Assoc. 2006 Sep 15;229(6):964-7.
- Graham L., Wells D.L., Hepper P.G., the influence of olfactory stimulation on the behaviour of dogs housed in a rescue shelter. Applied Animal Behaviour Science Volume 91, Issues 1–2, May 2005, Pages 143-153
- Olfaction in animal behaviour and welfare. B.L. Nilsen. 2017